Cidade
O trabalho autônomo na pandemia
Para fugir do desemprego muitas pessoas decidem atuar de forma autônoma nessa pandemia
Publicado em 03/05/2021, por Bruna D'Ângela.
Já ultrapassamos a marca de um ano enfrentando a pandemia de Covid-19 e nesse período muitas áreas de emprego foram afetadas pelo isolamento social. Várias empresas diminuíram o quadro de funcionários para conseguir se manter em um momento tão difícil, com isso houve um aumento no número de desempregados. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o desemprego atingiu cerca de 14 milhões de brasileiros até novembro de 2020.
Em busca de uma nova fonte de renda ou de um extra, muitos trabalhadores estão apostando no trabalho autônomo, como é o caso de Márcia Margarida Giacomin Soares, de 53 anos, que está se aventurando pelo comércio digital. Márcia mora em Ouro Branco e no ano passado saiu do seu emprego no instituto Miguel Fernando Torres, onde trabalhava com uma oficina de artesanato. Ela começou a se desenvolver no segmento do artesanato em 2008 e 2013 começou no Projeto Vem Ser, onde ficou até o ano passado. Com a saída do Instituto Márcia decidiu reativar seu ateliê “Charme de Linhas”, onde produz e vende suas próprias peças, como sousplat, pesos de porta, panos de prato, toalhas bordadas etc.
“O maior desafio foi buscar conhecimento no mundo digital, tanto no que se refere ao aprendizado de novas técnicas como na divulgação dos produtos. Outro desafio foi manter o contato virtual com os clientes, ao invés do costumeiro face a face” afirmou a artesã. Mesmo enfrentando novos desafios ela tem expectativa de desenvolver sua marca no mercado digital.
Taynah Muniz, outra moradora de Ouro Branco também começou uma loja online na pandemia, a “Talinda de Prata” é um projeto da pedagoga de 25 anos. Taynah começou no empreendedorismo em março deste ano e está focada em crescer seu negócio de vendas de acessórios de prata. “A Talinda é algo que tenho prazer em ter, pois além de ser apaixonada por educação, gosto de vendas e dessa interação com o público online, que é gratificante”. A pedagoga que se aventura no comércio online apontou um grande desafio nas vendas pela internet, conquistar a confiança dos clientes. Segundo a jovem, convencer os clientes que seu produto realmente é bom sem poder tocar ou experimentar é a maior dificuldade que enfrenta. Mesmo assim, Taynah se dedica a crescer sua loja e acredita que o mercado online oferece espaço a todos.
O aumento de motoristas de aplicativo
No último ano, com a alta do desemprego, houve um aumento no número de motoristas de aplicativo, já que vários trabalhadores optaram por experimentar esse trabalho autônomo, em contrapartida o número de clientes diminuiu com o isolamento social. Em 2021, esse ramo enfrentou um novo problema, a crise do combustível. No início deste ano os combustíveis subiram cerca de 30% nas refinarias, com o acréscimo de valor no começo da cadeia de distribuição, o consumidor final também encara os altos preços.
Isso foi o que levou o tecnólogo em logística, Fernando Augusto de Oliveira Júnior, 43, a desistir de continuar trabalhando como motorista de aplicativo. Fernando também é formado em licenciatura em computação e até o começo da pandemia trabalhava em uma empresa de sistemas para gestão pública, fazendo softwares para prefeituras. Ele era responsável pela implantação de sistemas nas prefeituras clientes da empresa que prestava serviço, mas em abril de 2020 foi desligado graças a um corte no quadro de funcionários da companhia. Depois da demissão, Fernando se tornou um Microempreendedor Individual (MEI) na área de informática, aproveitando desse registro, ele voltou a atuar como motorista, pois já havia exercido essa atividade alguns anos antes. Ele então conciliava os dois empregos, porém como reflexo da pandemia, não havia muitos contratos com sua empresa de informática. Foi então que resolveu focar como motorista nas regiões de Ouro Branco e Conselheiro Lafaiete, mas a crise do combustível deste ano fez com que a atividade não ficasse tão vantajosa, já que grande parte do lucro era convertida para o combustível. Hoje, Fernando não atua mais como motorista e voltou a exercer trabalhos na área de informática, atualmente faz especialização em arquitetura de sistemas da informação, e pretende focar nos contratos voltados para esta área.
Diferente da estudante de administração Luma Faria, de 25 anos, que ainda mantém o trabalho de motorista. Luma estuda no Instituto Federal de Minas Gerais e antes da pandemia fazia estágio em uma grande empresa da região, logo no início do isolamento social, os estagiários foram afastados e posteriormente desligados da empresa. Após 6 meses se dedicando apenas à graduação, Luma trabalhou em uma empresa do setor de energia solar, onde ficou por 4 meses antes de sair por não se identificar com a área. Desempregada e sem opções de serviço graças a pandemia, a estudante resolveu experimentar o trabalho de motorista. Atualmente Luma trabalha em uma empresa chamada “Wilson Express”, onde faz corridas de 7 horas da manhã até as 19 horas da noite.
“No início tive medo de trabalhar por conta própria, se eu iria ter clientes e retorno, como seria a aceitação do meu público, já que o meu público alvo são as mulheres. Mas eu tive um bom retorno e uma boa aceitação, até por ser uma mulher dirigindo e as clientes se sentem mais seguras”. Esse é um projeto que pretende manter no pós-pandemia, mas como uma renda complementar, pois ainda deseja trabalhar em sua área de formação. Nesse momento, os desafios da estudante são voltados para segurança contra o Covid-19; manter o carro higienizado após toda corrida, manter álcool para os clientes e conscientizá-los sobre aglomerações e principalmente o uso de máscaras. Para Luma, a rede social é a melhor forma de divulgação de seu trabalho e está com grandes expectativas de crescimento graças ao aplicativo que a empresa onde trabalha está para lançar. A nova ferramenta tem o objetivo de melhorar a interação com os clientes nessa nova era de serviços por aplicativos.