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Fuapa - O Campeão segue invicto!

Um ano após o acidente Daniel “Fuapa” está em plena forma e segue invencível!


Publicado em 24/05/2021, por Ramon Vinny.

O sonho de todo atleta sem dúvida alguma é o ponto mais alto do pódio, mas sabemos que o caminho até lá nem sempre é tão glorioso quanto a entrega da medalha. A trajetória de um competidor começa logo cedo, com o sonho de criança em ser o melhor e o ídolo de outras crianças.

Para um esportista o sabor da vitória tem o tempero de vencer os vários medos, tão comuns ao ser humano: o medo de decepcionar, se frustrar, não ser o melhor ou de não conseguir competir. E o campeão invicto é aquele chega ao pódio, não pela derrota de outro esportista, mas sim, aquele que vence os próprios obstáculos de maneira limpa e justa.

Determinação, garra e coragem nunca faltaram a Daniel para alcançar seus objetivos

Os grandes atletas parecem ter em comum histórias dignas dos premiados roteiros de cinema. Tão marcante e com mesmo tom de impacto e superação da história do inabalável Rock Balboa a trajetória de Daniel, que não é o San, mas é o “Fuapa” como é popularmente conhecido começou ainda criança, por volta dos 3 anos de idade ao lado dos irmãos Fred e Bruna dando suas primeiras braçadas nas piscinas do Clube AEA em Ouro Branco.

Dona Eunice e o Sr. Maurício, ex atleta, sempre acreditaram no potencial dos filhos e foram os primeiros fãs da pequena seleção de atletas que tinham dentro de casa. Daniel ao lado dos irmãos, iniciou na água, logo tomou as quadras no time “Bengalinha”. Há quem diga que, mesmo sendo filho do técnico não tinha moleza, o garoto era bom e mostrava intimidade com a pelota, encarou até o MMA, mas foi no Jiu Jitsu que Daniel se encontrou, mostrando que veio para fazer história.

A família sempre foi os maiores torcedores e incentivadores dos sonhos do atleta

Um medalhista nato, sem perder a humildade e com muita dedicação, se graduou faixa a faixa, com garra e suor. Competiu em grandes campeonatos. Na luta pelo complicado patrocínio, nunca houve dificuldade que colocasse os sonhos em segundo plano, e fabricando cofres de MDF na marcenaria em que trabalhava, o jiu os vendia para pagar as inscrições e até mesmo custear as viagens.

Hoje Daniel Aleixo é um atleta de sucesso, é Bacharel em Educação Física e com o bordão: “Vamo que vamo, para cima sempre, porque foguete não tem ré”, Fuapa é inspiração para crianças, jovens e adultos a seguirem o caminho do esporte, e um pouco dessa história você vai conhecer nas próximas linhas.

Dias de luta, dias de Glória

No esporte, o chamado Fair Play (Jogo Justo) é uma filosofia que diz muito sobre a ética de qualquer competição. A expressão que nasceu nas primeiras olímpiadas da era moderna, na frase do Barão de Coubertin, organizador da competição que disse: “Não pode haver jogo sem fair play. O principal objetivo da vida não é a vitória, mas a luta”. Se olharmos de fora e de muito distante, poderíamos dizer que a vida não colocou em prática o tal Fair Play ao ir para tatame com Daniel Fuapa.

O jovem lutador de Jiu Jitsu de 33 anos, nascido na capital mineira, mas criado na cidade de Ouro Branco, colecionador de medalhas e frequentador assíduo dos pódios mais cobiçados do Jiu Jitso, em março de 2020, enquanto o mundo parava para o Novo Coronavírus, precisou dar um tempo na sua carreira por conta de um grave acidente de trabalho.

O golpe

Daniel fazia um freelance em uma madeireira quando uma chapa de madeira caiu sobre sua cabeça, fraturou duas vértebras (C4 e C5) causando uma lesão medular. Pela primeira vez o campeão estava imóvel. O acidente fez Daniel perder todos os movimentos do corpo do pescoço para baixo.

Acostumado aos desafios como fez ao longo de toda sua trajetória, Daniel se manteve forte diante de mais um deles. Foram quase 30 dias de uma longa e angustiante luta do campeão no CTI do Hospital João XXIII em Belo Horizonte.

O Contragolpe

Daniel teve os primeiros atendimento e cuidados na rede pública de saúde, que infelizmente tem recursos bastante limitados para uma reabilitação satisfatória, principalmente com toda a criticidade do momento de Pandemia. Logo que já estava clinicamente recuperado e pronto para avançar no tratamento fisioterápico passou a ser cuidado no Hospital Sarah, lá teve dificuldades de adaptação, no retorno para casa seguiu o tratamento com fisioterapeuta Plínio Dutra na clínica Fisio Ouro, e por indicação procurou a ProSense, que é referência no tratamento de ponta e especializado na reabilitação de graves lesões. Porém, o alto custo do tratamento médico em uma clínica particular, colocava um obstáculo grande diante das condições financeiras do atleta. O que Daniel não imaginava, era que sua família, amigos e até pessoas que ele não o conhecia, no Brasil e no exterior fossem capazes de mover montanhas para que luta não fosse adiada.

Uma enorme mobilização foi realizada em prol da causa de Daniel: vaquinha online, bazares e até uma super feijoada com o apoio de alguns comerciantes da cidade de Ouro Branco, foi realizada com o intuito de custear todo o tratamento na clinica de fisioterapia e medicação. Tudo o que eles queriam era ver Daniel de volta aos pódios.

Em entrevista exclusiva ao Portal Tabloide, Daniel lembra com emoção a calorosa recepção de um grupo de motoboys: “Fui motoboy, sei o quanto esses caras são uns pelos outros, muito unidos, foi demais ver amigos e pessoas que eu nem conhecia ali me recebendo com festa, se mobilizando para me ajudar. Eu sempre fiz pelas pessoas, mas nunca esperando algo em troca, ajudar o próximo, estender a mão é um valor que tenho em mim desde que me entendo por gente, e receber o carinho das pessoas e ver o quanto elas se importam é gratificante, me fez e têm me feito muito bem”, diz Daniel.

Em razão das medidas de saúde e segurança o Portal Tabloide fez uma entrevista via Google Meet com Daniel, além de contar um pouco de como tem sido o tratamento, Daniel se mostrou inabalável, o atleta tem seguido um trabalho intenso rumo a recuperação.

Daniel como tem sido o tratamento e a resposta do seu corpo após um ano do acidente?

Não é fácil, um dia após o outro, é notório que houve uma evolução significativa do momento do acidente até os dias de hoje, eu precisei reaprender coisas básicas como falar e até mesmo respirar. O meu condicionamento físico fez toda a diferença no primeiro momento, durante um bom tempo me alimentando por sonda cheguei a pesar 55 kg, na segunda fase do tratamento, 6 primeiros meses da reabilitação foi no Hospital SARAH em Belo Horizonte e em Outubro de 2020, eu comecei o tratamento na ProSense, uma clínica particular de reabilitação da condição física e neurológicas. Lá tem de tudo para o tratamento ideal, então eu consigo além de ficar de pé com auxílio de equipamentos, exercito todo o meu corpo, braços, pernas, tronco, etc. Tenho o apoio da minha família: esposa, pais, e irmãos, também de amigos e os profissionais que me acompanham somam muito nessa recuperação.

Hoje qual a sua atual condição física?

Eu perdi por completo todos os meus movimentos do pescoço para baixo, e com o tratamento fisioterápico, à medida que vou ganhando musculatura e desinflamando a medula, já consigo realizar alguns movimentos com o ombro e consigo sentar, uma vez que, já tenho o controle do tronco. Mesmo nos dias que não vou a ProSense continuo os trabalhos na clínica Físio Ouro com os cuidados do Fisioterapeuta e amigo Plínio Dutra e também em casa conto com o apoio da minha irmã Bruna, que todos os dias vem me alongar para que não atrofie braços, pernas, mãos, dedos, etc.

A vaquinha e a doações ainda continuam?

Sim ainda continua, o tratamento clínico é muito caro. Graças as primeiras campanhas de vaquinha, doações e feijoada foi possível realizar os primeiros 6 meses na clínica. Agora estamos partindo para os próximos 6 meses e negociando como vai ficar daqui para frente. Só com a clínica de reabilitação são pouco mais de 4 mil reais por mês, além disso tem outros gastos, com a logística até lá, medicação, etc. Estamos já planejando uma outra Feijoada, um bazar em uma live, além de uma rifa, em que vamos rifar uma camisa do Atlético Mineiro autografada por todos os jogadores do time, preciso confessar que com um certo pesar, a vontade é de ficar com ela, mas a causa é boa! (Risos).

Mesmo precisando de tanta ajuda nesse momento, vocês ainda sim estão compartilhando essa solidariedade ajudando a outras pessoas, certo?


Então, desde que voltei para Ouro Branco e parei de usar fraudas e outros insumos, algumas pessoas ainda continuavam nos trazer esses materiais, então ficamos sabendo de algumas pessoas que precisavam desse apoio aí começamos a destinar isso a quem precisava, já que eu não usava mais. Foi quando conheci o caso do Rian, um garoto aqui de Ouro Branco que se acidentou de moto e estava também tetraplégico. Então destinei a ele alguns materiais e realizamos uma campanha para arrecadar dinheiro para a compra de uma cadeira de rodas para ele.

O apoio das pessoas nem sempre é só material, não é mesmo?

Desde o primeiro momento no hospital conheci histórias impressionantes pessoas com tetraplegia que estavam andando com muletas, dando os primeiros passos, e todos eles têm sido de uma motivação importantíssima para mim. Recentemente na semana em que completou um ano do acidente estava bem mal. Naturalmente é assim, tem dias que estamos bem e tem dias que ficamos mais para baixo, e em um desses dias eu recebi uma ligação de um amigo que fiz nesse período, o Ilsinho, que é um cara fantástico e com uma história incrível, que com um simples telefonema me deu uma aula sobre viver um dia de cada vez, ter paciência que as coisas acontecem no tempo certo.

Pendurar o kimono nem pensar, certo?

Eu sempre fui atleta desde os meus 3 anos comecei na natação, bicicross, futebol, MMA, etc. Me dediquei muito para as minhas vitórias, e estava já vivendo uma fase em que ganhar já não era mais a minha meta, eu queria fazer um novo campeão, que fosse tão bom ou até melhor do que eu fui. Fazer isso por alguém já estava nos meus planos. Praticar um esporte como Jiu Jitsu no interior não é fácil, pouco antes do acidente quando eu saia daqui para competir me deparava com atletas de grandes academias, que tinham de uma infraestrutura enorme, porém isso não me intimidava, eu me sentia tão seguro e preparado que eles se viam receosos em competir comigo, alguns torciam para não ter que me enfrentar pois sabiam que não seria uma luta fácil. Me sentia lisonjeado pois muitos vinham até mim para conversar, falar da admiração e até queriam treinar comigo.

Minha mente trabalha o tempo inteiro sem parar, hoje eu preciso tentar controlar um pouco minha cabeça para que ela acompanhe o meu corpo (risos), enquanto eu estava no hospital eu já ficava treinando posições na minha mente.

Teve um dia que me levaram a academia, pedi a um aluno meu que fizesse uma posição para eu saber se ela iria funcionar, dei todas as orientações sobre a posição, ele foi e fez, deu super certo! Então ele parou, olhou para mim e disse: “Você é fora do normal Daniel, não existe um cara como você, não acredito que você pensou essa posição no hospital.”, depois eu já pesei em outra, liguei para ele, ele disse que estava de férias, então eu disse a ele para treinar com a esposa a posição (risos) para quando ele voltasse podermos treinar, ele assim fez. Eu fui acompanhando e ia orientando ele por áudio, de como ele deveria se movimentar e a maneira como ele precisa pensar o adversário. Dando todo apoio e orientações que eu pude. Acredito que ainda posso contribuir muito com o esporte.


Na entrevista fica claro que o corpo de Daniel Fuapa vive o que podemos chamar de um momento sabático, a mente de campeão segue firme e sem conhecer nada sobre limites.

Ao lado do campeão a equipe técnica da vida

O amigo Ilson Jr, ou Ilsinho, foi um grande presente na vida de Fuapa, a história em comum, do ex atleta profissional de Mountain Bike que após dedicar toda a sua vida ao esporte, aos 26 anos sofreu um acidente e quebrou as mesmas vértebras C4 e C5, e lesionando a medula espinhal, ficando tetraplégico, é como um combustível para Daniel Fuapa. Ilsinho é um exemplo vivo, uma verdadeira luz para muitos que da mesma forma que Daniel se veem diante de um diagnóstico nada animador.

Com histórias parecidas os Atletas Daniel e Ilsinho são exemplos de determinação e força!

Quase 5 anos após o acidente, quem vê Ilsinho ativamente praticando esporte e esbanjando qualidade de vida, não acredita que em algum momento, esse mesmo jovem não teve movimento algum do pescoço para baixo.

Os dois se conheceram através de amigos, e o encontro pessoal aconteceu na clínica de fisioterapia ProSense. Com um histórico tão semelhante, os atletas também compartilham de altos e baixos tão comuns a quem está acostumado a vencer sempre, e vez ou outra, se depara com frustrações. A tão difícil “paciência” para quem tem pressa, parece ser ainda mais martirizante.

Para Ilsinho a rotina de atleta, composta por dedicação, treinamento incessante e a capacidade de reinvenção às adversidades que compõe o “mintset esportivo”, fazem a real diferença no sucesso dos “pequenos grandes objetivos” diários de quem passa por momentos assim, se recuperando de uma tetraplegia.

“Daniel está no caminho certo, fico muito feliz em vê-lo forte e determinado, cada um tem o seu tempo. Desejo com todas as minhas forças que ele volte a andar logo, todo seu esforço e dedicação sem dúvida alguma vão lhe resultar numa ótima recuperação. ” – Ilsinho

Brenda França, fisioterapeuta da ProSense, acompanha o tratamento de Daniel de perto desde janeiro de 2021, ela conta que a especialidade da clínica na reabilitação neurofuncional, prevenindo e tratando pacientes com disfunções tanto do sistema nervoso central quando do sistema nervoso periférico é o que trouxe Daniel e tanto outros pacientes.

O tratamento exige uma rotina intensa de exercícios

No caso do Daniel que teve uma lesão medular severa o diferencial da clínica são os recursos disponibilizados, temos a "gaiola" onde realizamos a maior parte dos procedimentos, ela fornece muitos equipamentos que podem ser utilizados com os pacientes. Então colocamos o paciente em pé, sentado de 4 apoios, ajoelhado, etc, com ela conseguimos explorar bem as atividades de reabilitação, fora isso temos a plataforma vibratória que é um excelente recurso de informação para o corpo, o guincho e a maca ortostática que permitem o paciente ficar em pé.

Daniel é um paciente muito determinado, eu até brinco com ele, falando que nunca vi alguém com tanta garra como ele. Ele sempre consegue superar minhas expectativas durante os atendimentos, chegou na clínica com quase nada de controle postural principalmente do tronco, era muito difícil manter ele em uma postura sentada, então começamos a trabalhar muito esse controle, tanto em pé na maca ortostática quanto sentado na plataforma vibratória.

A fisioterapia dele é muito intensa são 2h por dia durante 3x na semana. Apesar da lesão ele não perdeu seu lado competitivo e de sempre querer mais, o que é um diferencial e tanto nos resultados tão promissores.

Daniel se orgulha de sua história e suas conquista, seja no tatame ou fora dele, o campeão ainda tem muito a conquistar!

Um cara predestinado a vencer, esse é Daniel Aleixo ou simplesmente Fuapa, uma história real que não intimida nem os mais premiados roteiros do cinema. Não nos resta dúvida de que mais cedo ou mais tarde o dia “D” vai chegar, no seu tempo, e Fuapa vai subir no topo do pódio com mesmos pés firmes que o levaram a trilhar essa história de um ser humano de sucesso!

 

Quer ajudar Daniel vencer esse desafio?

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