Brasil e Mundo
Contaminação de crianças por Covid-19 aumenta em Minas Gerais sem vacinação
Anvisa analisa pedidos para uso de vacinas da Pfizer e do Butantan em crianças no Brasil
Publicado em 13/12/2021, por Júlia Amorim.
Com o avanço da vacinação contra a Covid-19 entre o público adulto e adolescentes no Brasil, crianças com idade inferior a 12 anos ficam mais suscetíveis à contaminação pela doença. De acordo com o Ministério da Saúde, já são 1.412 casos confirmados de síndrome inflamatória multissistêmica associada à doença no público infantil no país.
Em Minas Gerais, segundo o painel de monitoramento da Secretaria de Estado de Saúde (SES/MG), o público com idade entre menores de um ano até 9 anos já representa 7,3% dos casos confirmados de coronavírus, desde o início de novembro até o dia 7 de dezembro. O índice, ao final do primeiro semestre de 2021, variava em torno de 3,5%.
Uma explicação para esse cenário, segundo especialistas, é a ausência de autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a vacinação das crianças. O órgão, inclusive, deve anunciar, nos próximos dias, se autoriza o uso da vacina da Pfizer para crianças de 5 a 11 anos. O pedido foi feito em 12 de novembro e está sob análise de documentações.
A Anvisa também já solicitou informações complementares ao Instituto Butantan para definir sobre o uso da Coronavac entre pequenos de 3 a 11 anos. Caso a Agência autorize a imunização do público infantil, o Brasil se somará a países como Estados Unidos, Chile e China que já vacinam na faixa etária inferior aos 12 anos. O procedimento, inclusive, já foi recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e é visto como uma necessidade urgente pela diretora de comunicação da Sociedade Mineira de Pediatria, Gabriela Araújo.
A pediatra reforça que há uma incidência maior de diagnósticos de Covid-19 em crianças e que a vacinação deve ser iniciada imediatamente após a autorização da Anvisa, independente de qual imunizante seja validado. “Como estamos observando um aumento da incidência nessa população, uma movimentação natural é um crescimento nos registros de casos graves também”, alerta Araújo, que também é infectologista.
Araújo ainda acredita que o Brasil terá dificuldades para imunizar o público infantil. “Não é uma dificuldade só com logística de distribuição e organização dos Estados, mas também de conscientização da população sobre a eficácia e segurança das vacinas e da importância de se vacinar as crianças”, ressalta.
Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Isabella Ballalai reforça que as crianças estão mais expostas à contaminação por Covid-19. Um cenário real neste contexto é o aumento no registro de óbitos no público infantil no Brasil. “Apesar da letalidade menor em crianças, a Covid-19 hoje já mata mais crianças que doenças que eliminamos com a vacinação como o sarampo e a meningite”, observou.
Situação divide opiniões entre médicos
Apesar de ser amplamente favorável à vacinação contra a Covid-19, a pediatra e infectologista Regina Lunardi tem ressalvas principalmente sobre o uso da vacina da Pfizer no público infantil. A profissional acredita que faltam estudos sobre a eficácia do imunizante em crianças, principalmente por se tratar de um imunizante feito com tecnologia nova (RNA mensageiro). “Os dados ainda são muito frágeis para se vacinar todo o público, por exemplo, de 5 a 11 anos. Não indicaria ainda para crianças sem comorbidade”, atesta.
A preocupação, garante Regina, se dá pelo risco de as crianças desenvolverem quadros de miocardite, algo previsto na bula do antígeno da Pfizer. “A Coronavac eu já tenho mais tranquilidade, porque é uma vacina que utiliza o vírus inativado. Uma tecnologia utilizada na vacina da influenza e da paralisia infantil e que já estamos acostumados. Eu defendo plenamente a vacinação, mas tudo é muito novo em relação à Covid-19 e tem de ser tratado com cuidado ”, diz Lunardi.
Para Gabriela Araújo, no entanto, o risco de reações é menor do que a de desenvolver formas graves da doença. “A vacina da Pizer já demonstrou ser segura e eficaz. Havendo liberação ela deve ser utilizada para reduzir a transmissibilidade do vírus e evitar a doença grave nesta faixa etária”, justificou. A reportagem questionou a SES-MG sobre a vacinação de crianças e a pasta destacou que segue o Plano Nacional de Imunizações (PNI). O Ministério da Saúde, por sua vez, informou que aguarda o parecer da Anvisa para avaliar a inclusão de crianças de 5 a 11 anos na imunização.
Fonte: Jornal O Tempo