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Maternidade - Escolha ou Destino?
Ao contrário do que pode parecer, a maternidade nunca esteve necessariamente ligada em gestar uma vida no corpo de uma mulher. Elas escolheram ser mães e impediram que dois irmãos fossem separados pela adoção.
Publicado em 30/05/2021, por Ramon Vinny.
Basta o encontro entre um óvulo e um espermatozoide em condições adequadas para que a vida seja gerada, as características biológicas do corpo feminino é o ambiente propício para que isso aconteça. Assim como, graças à ciência aliada a tecnologia, hoje tal processo pode facilmente ser reproduzido em laboratório. Mas a maternidade exige mais do que condições e métodos adequados de reprodução. A relação afetiva entre mãe e filho é na verdade uma construção, um laço que para ser firmado é preciso que haja um único e importantíssimo ingrediente, o amor.
No Brasil o número de pessoas que estão na fila aguardando para serem ingressos num ambiente familiar é quase sete vezes menor que o número de pais e mães que esperam um filho por adoção, formando uma equação estranha, que precisa ser revista e tratada com a importância que o problema de ordem social necessita.
Processos longos, etapas lentas e o “perfil” de crianças e adolescentes que “se buscam” encontrar na fila, são os fatores de maior peso nessa matemática. Uma pesquisa realizada pelo Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul, com pessoas do Brasil e dos Estados Unidos, apontou que 4% dos norte-americanos adotam apenas por solidariedade, enquanto os brasileiros só desejam adotar em casos de perda de filhos biológicos, esterilidade, entre outros. Na outra ponta, o perfil e características físicas de crianças e adolescentes que engrossam a fila da busca de uma família são fatores importantes na decisão do brasileiro em adotar um filho.
As histórias de Lorena e Daniella, tem notas de maternidade em sua essência pura e genuína, mulheres que carregam com o orgulho o dom de ser amor infinito ao ser humano que ainda pouco sabe sobre o mundo. A Assistente Administrativa Daniella Rodrigues de Carvalho (41) e a Gestora de Recursos Humanos Lorena Rodrigues de Souza (36) têm vínculos familiares que vão além de serem primas, as duas são exemplo de mulheres que optaram por viver a maternidade na sua essência, no momento em que Duda e João mais precisavam do aconchego familiar e um colo de mãe.
"Eu nunca tinha pensado em adoção antes, mas depois que eu conheci a Duda, a adoção passou a fazer parte não só dos meus planos, mas dos meus sonhos também. Eu decidi pela adoção no momento que eu percebi que eu precisava muito mais da Duda do que ela de mim, tive a certeza que a vida sem filho (s) não fazia o menor sentido para mim, e a adoção era a escolha mais certa, já que a Duda já fazia parte da minha vida." Disse Lorena em entrevista ao Portal Tabloide, falando sobre o processo de decisão pela maternidade e a forma como a filha chegou em sua vida. Diferente de Lorena a mãe biológica de Duda nunca esteve pronta para a maternidade, pois precisava de cuidados muito mais dedicados a si, o que a não permitia ser naquele momento a pessoa ideal para cuidar e educar uma criança;
Lorena e Duda - Confiança, cumplicidade e aprendizado mútuo.
Como foi o momento em que decidiu pela adoção?
Eu sempre tive a certeza que queria ser mãe, mas não existiu um planejamento para a hora em que me tornei. Foi algo, realmente que eu não estava esperando. Não posso dizer que foi uma decisão fácil, porque com ela viriam muitas outras questões, seja da parte da família biológica, da parte burocrática para adotar uma criança no Brasil, do preconceito que muitas pessoas carregam, entre outros diversos fatores, que podem se tornar uma limitação para quem quer adotar. Mas foi um momento de profundo amor e certeza.
Imaginamos que entre a vontade de ser mãe e maternidade vivida diariamente existe uma enorme diferença. Houve momentos em que pensou que talvez não estivesse tão preparada quanto imaginou?
Ah, existe sim, existe uma enorme diferença... e esses momentos são constantes. Posso descrever muitos momentos em que me senti assim... como, por exemplo: Eu não estava preparada para a primeira vez que a Duda ficou doente, nem para o primeiro tombo que ela levou e precisou ser levada para o hospital.... Também não estava preparada para responder algumas perguntas inesperadas que ela me fez (e faz), ainda não estou preparada para a pré-adolescência que está batendo à porta, entre outros tantos!! Para ser sincera, acho que eu só estava completamente pronta para amar, porque por mais que eu pense no meu comportamento e no dela em determinadas situações, na maioria das vezes tem algo diferente do imaginado.
Para você o que é mais gostoso na maternidade?
Essa é difícil responder, hein... sem querer romantizar a maternidade, mas é tão maravilhoso ser mãe, que é complicado escolher o que é melhor, mas para resumir, o mais gostoso na maternidade para mim, é sentir o amor que minha filha me transmite e a segurança e confiança que ela tem mim, isso me faz querer ser uma pessoa melhor para ela e por ela.
Três gerações que se completam, esse trio feminino quando se junta a diversão é garantida, pelas redes sociais as postagens transbordam diversão e cumplicidade. Lurdinha, Lorena e Duda não economizam a felicidade nos vários momentos bons em que se reúnem, a união faz toda diferença, até mesmo quando o time do coração não está na melhor fase.
Avó, mãe e filha - A paixão pelo Cruzeiro que une na alegria ou na tristeza.
Da relação com a minha mãe a amizade e cumplicidade trago para a minha maternidade. Minha mãe sempre foi minha melhor amiga, dividimos tudo uma com a outra, mesmo sabendo que talvez seja algo que não agrade a ela e nem a mim. Procuro ser essa amiga e cúmplice da Duda, me espelhando na forma que minha mãe fez comigo, desde sempre, e o melhor de tudo, é que tem funcionado. Na realidade nós três somos melhores amigas, e nosso combinado é que não exista segredos entre nós.
Mas essa história pode ficar ainda mais interessante, quando a união familiar impede que dois irmãos sejam separados pelas circunstâncias da vida, nem sempre tão fáceis de entender. Aos três anos de idade Duda, filha de Lorena, estava prestes a ganhar um irmãozinho, a mãe biológica que continuava a enfrentar problemas e ainda sem condições de cuidar de outra vida, estava prestes a dar à luz a outro filho.
Logo no momento do nascimento, uma decisão judicial determinou que o bebê não poderia ficar com a mãe em razão da situação de vulnerabilidade que ela se encontrava. Assim sendo, a justiça orienta que a guarda seja entregue aos parentes mais próximos. O avô e a bisavó foram acionados, mas abriram mão da criança, a lei determina que em situações como está o ideal é que a criança fique com parentes consanguíneos.
À Lorena que já detinha da guarda de Duda foi oferecida também a guarda do bebê, porém estava se adaptando a maternidade e como seu esposo trabalhava em outra cidade, o momento certamente não era o mais adequado para assumir essa responsabilidade. Na falta de opções o irmãozinho de Duda entraria para a fila de adoção.
Foi aí que Daniella, prima de Lorena, que já era mãe da Lavínia na época com 13 anos, e o esposo Alex decidiram serem também os pais do João. Foram 42 horas para que o casal gerasse e desse a luz ao caçula. Agora sim a família estava completa e o João já não estava mais propenso a perder completamente os laços com a sua a sua irmã. Com uma única peça de roupa, doada pelo hospital, João foi entregue aos braços da mãe Daniella.
Daniella descobriu na adoção que amor de mãe se multiplica infinitamente.
Daniella que embora soubesse que um dia teria sua própria família, nunca havia sonhado, propriamente dito, com a maternidade, mãe pela primeira vez aos 18 anos, ela conta ao Portal Tabloide como os dois filhos, que vieram de forma tão inesperada acrescentaram em sua vida.
A adoção sempre foi uma alternativa possível? Como foi o momento em que decidiu pela adoção?
Não. Acho que crescemos com a cultura de que “se você é capaz de gerar porquê adotar? ” Não era o meu caso na verdade já tinha uma filha e não pensava em ter mais. O João literalmente foi um presente. A mãe biológica já tinha história difícil que a impossibilitava de cuidar dos filhos. E para que ele não se desligasse completamente da família e perdesse o contato com a Duda, sua irmã biológica, tivemos que tomar uma decisão rápida sem muito o que pensar, mas assertiva.
Imaginamos que entre a vontade de ser mãe e maternidade vivida diariamente existe uma enorme diferença, teve momentos em que pensou que talvez não estivesse tão preparada quanto imaginou?
Sempre acho isso, me pergunto o tempo todo se estou fazendo o certo, é muito difícil, porque estamos formando seres humanos com personalidades diferentes das nossas porque ninguém é igual e esses ensinamentos determinma que pessoa esse filho irá se tornar.
Para você o que é mais gostoso na maternidade?
Tudo! (Risos) a maternidade transforma vidas e é impossível se imaginar em uma vida diferente depois de ser mãe, acordo todos os dias por eles, trabalho por eles, vivo por eles e para eles, então tudo que os envolve é maravilhoso.
O que você acha que tem de mais presente da sua mãe na mãe que você é hoje?
Fui criada somente pela minha mãe, ela criou eu e minha irmã sozinha, a diferença de idade nossa é de apenas 1 ano e 7 meses. Ela sempre trabalhou, para que não nos faltasse nada, e assim não tinha muito tempo para a gente. Mas nos deixou a lição que por um filho fazemos tudo, até mesmo deixar de comer para dar a eles, passar frio para esquentar a eles, não dormir para que não os falte minimamente básico, essa sempre foi a minha mãe, o carinho e a prova de amor era dado através da batalha diária. E essa garra para buscar o melhor para os meus filhos tenho dela.
Como vocês abordam o assunto com o João, ele conhece a própria história?
Todas as perguntas são respondidas a ele para que ele cresça confiando na gente, conhece a mãe biológica e tem contato com ela, ama muito e não aceita que ninguém fale mal dela, fruto de um empenho enorme em deixar a melhor imagem possível dela para ele.
Para nós não há diferença nenhuma, só lembramos que João foi adotado quando surge o assunto, o amor dele pela Duda é o mesmo que pela Lavínia.
Vivendo em famílias diferentes, mas de maneira muito próxima, à Duda (11) e João (9) nunca foi escondido nada, sabem que são irmãos, se tratam como tal e conhecem a história que os unem além do sangue, o garoto ainda ostenta o amor de duas irmãs para dividir bagunças, as broncas e muitos momentos em família.
João e as irmãs Duda e Lavínia são parceria para todos os momentos.
A história desses dois irmãos, diz muito sobre a complexidade de ser mãe, a biologia pouco importa. Resumindo bem as várias histórias de maternidade que o Portal Tabloide trouxe nesse mês de maio dedicado à essas pessoas que vivem o amor mais essencial que existe. O Amor que não se explica, seja de barriga ou de vida, desde sempre ou escolhida, seja lá como for, amor de mãe é para toda vida. Jamais se divide, ele se multiplica quantas vezes for necessário e jamais se finda.
No dia 25 de maio é celebrado o dia Nacional da Adoção, deixamos assim a nossa admiração a quem tem a nobre iniciativa de ser familia à aqueles que aguardam pelo acolhimento e braços abertos de um lar repleto de amor!