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Virgínia Leone Bicudo: conheça a psicanalista homenageada pelo Google


Publicado em 21/11/2022, por Bruna D'Ângela.

A psicanalista brasileira Virgínia Leone Bicudo é a homenageada pelo Google nesta segunda-feira (21), data em que a profissional completaria 112 anos, se estivesse viva. Ela ajudou a implementar e desenvolver a psicanálise no Brasil. Mulher negra multifacetada, ela teve várias profissões — e foi pioneira em quase todas.

Tornou-se socióloga quando o cargo ainda se institucionalizava, e psicanalista quando o ofício estava se iniciando no país. Foi educadora sanitária, visitadora psiquiátrica, professora universitária e divulgadora científica.

Mas quem foi Virgínia Leone?

Ela nasceu dia 21 de novembro de 1910, em São Paulo. Filha de uma imigrante italiana que trabalhava como empregada doméstica e de um homem negro que sonhava ser médico, ela tentou inicialmente seguir o caminho da medicina. As faculdades, entretanto, negaram sua inscrição com base na cor da pele.

Dedicada aos estudos desde muito nova, ela concluiu sua formação em 1930, em uma instituição importante de São Paulo, a Escola Normal da Capital (futura Escola Caetano de Campos). Em 1932, ingressou no curso de Educação Sanitária no Instituto de Higiene da cidade.

Após formada, trabalhou na seção de Higiene Mental Escolar do Serviço de Saúde Escolar, de onde se tornou educadora sanitária, segundo o Canal Ciência. Em 1936, ingressou no curso de graduação de Ciências Políticas e Sociais da Escola Livre de Sociologia e Política (ELSP), onde concluiu seu bacharelado três anos depois.

Em meio à batalha contra o racismo, a estudiosa negra foi a única mulher dentre oito bacharéis da turma. Conheceu nesse meio o psiquiatra Durval Marcondes, que em 1927 fundou a Sociedade Brasileira de Psicanálise.

Em 1940, a socióloga se uniu a Durval e assumiu a cadeira de psicanálise e higiene mental na ELSP. A disciplina abordava o contexto familiar e educacional, enfatizando os cuidados preventivos relacionados à saúde psicológica das crianças, segundo relata em artigo Regina Lacorte Gianesi, membra associada da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP).

Em 1944, Bicudo fundou o Grupo Psicanalítico de São Paulo, precursor da SBPSP. No ano seguinte, a tese de mestrado dela, “Atitudes raciais de pretos e mulatos em São Paulo”, foi a primeira dissertação sobre questões raciais no Brasil.

Um ano depois do incidente, Bicudo foi para Londres estudar sobre psicanálise infantil. Lá fez formação na Sociedade Britânica de Psicanálise e cursos na clínica Tavistock. Teve contato com psicanalistas proeminentes da época, como Melanie Klein, Beth Joseph, Ernest Jones, Frank Phillips (seu analista), Paula Heimann, Herbert Rosenfeld (seu supervisor) e Donald Winnicott.

Quando retornou ao Brasil em 1959, a estudiosa introduziu ideias kleinianas em São Paulo. Também se destacou no ensino da psicanálise infantil no Brasil, introduzindo essa especialidade na SBPSP, onde atuou por 14 anos. E ainda ajudou na fundação da Sociedade de Psicanálise de Brasília na década de 1970.

A pesquisadora se afastou do trabalho clínico em 2000 e morreu em 2003, antes de completar 93 anos. Apesar de ser pioneira, sua contribuição para a psicanálise no Brasil é pouco lembrada: sua dissertação de mestrado, por exemplo, só foi publicada 65 anos depois, em 2010.

Fonte: Revista Galileu