Artur Carvalho de Amaral Gurgel
Sobre Tarados
Publicado em 15/07/2022, por Artur Carvalho de Amaral Gurgel.
Olá, eu tinha prometido para esta semana um texto sobre o que desejo de bom para minha cidade. Ocorre que um fato nos atropelou e é sobre ele que preciso falar:
O crime do anestesista chocou a todos. Fiquei num silêncio de dor ante a bestialidade. No entanto, alguém postou que estava pensando na mãe, na irmã, nas mulheres parentes do criminoso. Entendi, dessa forma, que meus pensamentos não eram solitários. Resolvi me expressar.
Antes de qualquer coisa, esclareço que não estou querendo fazer o papel de advogado do diabo, não ousaria defender o indefensável. Gostaria sim, de opinar sobre a reação de algumas pessoas diante desses fatos. Acredito que, encaminhar uma avaliação apenas como um crime contra a mulher poderia ser uma redução da gravidade do ato. É um crime contra a humanidade, muito além da questão dos gêneros. E, vejam, crime fomentado por muitos, esses que têm interesse em romper com toda a ética, com todo o bom senso. É só ver o número de seguidores que o médico ganhou após a divulgação de seus atos. Por outro lado, outros desejam que o castigo seja ele ser preso numa cela para ser estuprado também. Esses são iguais aos seguidores, o avesso do avesso, como diz Caetano. A mídia faz seu circo girar. Até uma avó dizendo que a filha foi para casa com uma “casquinha” na orelha, insinuando que seria esperma seco, a televisão veiculou.
Bem, optamos em voltar para a barbárie, agora nos queixamos... temos tarados de todos os tipos, e eu pergunto: será que uma pena de trinta anos reabilita um sujeito desses? Claro que não. Então vamos deixá-lo solto? Claro que também não! Quem precisa dar conta disso é a Psiquiatria, manicômio judiciário por tempo indeterminado, talvez a vida toda. Fiquei me lembrando do filme “Laranja Mecânica”, será que a Ciência já avançou daquele momento?
O que o anestesista fez, e vejam que facilitou em tudo para ser flagrado, foi mais profundo do que um suicídio. Ele se matou profissionalmente, socialmente, como cidadão, abdicou da própria condição humana para se tornar uma besta-fera. Causou traumas em inúmeras pessoas, pânico, horror. Jogou uma carreira promissora no lixo, a juventude e qualquer dignidade.
Não, esse episódio não é uma questão de gêneros, não atingiu só as mulheres que foram vítimas. Abalou toda a humanidade, nós mesmos, que de uma forma ou de outra somos coniventes com essa sociedade apodrecida em que vivemos.
Artur Carvalho de Amaral Gurgel
Professor Me. / Poeta