Elizabeti Felix
Ouro Branco antigos laços e a nova realidade
Publicado em 15/02/2023, por Elizabeti Felix.
Este texto faz parte de um projeto que iniciei para apresentação em seleção de mestrado em educação, acabei fazendo uma disciplina isolada e tive que mudar os planos, infelizmente. Foi importante porque iniciei outra pesquisa e dei continuidade a história de Ouro Branco por um outro prisma, também levantei dados sobre a participação dos judeus na fundação do município. Posteriormente falarei a respeito.
Primeiramente eu tinha o objetivo de traçar um diagnóstico das transformações que aconteceram da cidade de Ouro Branco na implantação da Siderúrgica, focalizando nos sentimentos comunitários com o início do Ciclo do Aço no final da década de 70 e expansão no início dos anos 80. Quando houve a crença generalizada de que o progresso iria distribuir os frutos da modernização para um número cada vez maior de pessoas, garantindo a inclusão da população local na base da nova sociedade. O que não aconteceu.
Através de pesquisa com famílias nativas mais antigas, fui de encontro a um panorama da existência de uma sociedade formada entre o antigo e o novo, membros de oportunidades, tendo tratamento desiguais.
(...) a sociedade ideal não está fora da sociedade real, é parte dela (...) porque uma sociedade não está simplesmente constituída pela massa de indivíduos que a compõem, pelo solo que ocupam, pelas coisas que utilizam, pelos movimentos que efetuam, mas, antes de tudo, pela ideia que ela faz de si mesma (DURKEIM apud QUINTANEIRO, 2000, p. 19).
As entrevistas me levaram a um profundo sentimento de tristeza dentro dessas famílias e a marginalização vivida por eles, sendo parte de uma sociedade em transformação, além da distância entre as rendas, originando forte disparidade econômica. O estudo se propunha navegar pelos anos que representaram mudanças profundas em sua estruturação, perpassando pela não integração identitária formada pelos processos sociais em sua construção.
A identidade é formada por processos sociais. Os processos sociais implicados na formação e conservação da identidade são determinados pela estrutura social (BERGER;LUCKMANN, 1999, p.228).
Nesse ponto, coube tratar do papel representativo da história e sua relação na memória local e regional, abordei por meio de uma análise a complexidade dos fatos acontecidos. Demonstrei com o material das entrevistas que, na identidade não existia uma relação de igualdade que cimentava esse novo grupo, não havia reabilitação dos valores regionais e tradicionais, que era tão rico e pouco valorizado.
As fontes de informações destinadas a este projeto foram relatos, periódicos e obras publicadas (livros, revistas, jornais, etc.) que serviram de base de dados para levantar o tema abordado, locais visitados:
- Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - AEAM. Prateleira S, nº23ª A.
- Biblioteca Pública Luís de Bessa –Belo Horizonte.
-Instituo Estadual Patrimônio Histórico e Arquitetônico de Minas Gerais. Belo Horizonte.
- Biblioteca Municipal Baptista Caetano D'Almeida. São João Del Rei.
O impacto da implantação da usina formatou novas relações espaciais, sociais, econômicas, etc. trazendo um novo ciclo de riqueza para o município e um novo nível de abordagem para a questão urbana. A população nativa se sentiu excluída com a chegada de uma nova população para morar no espaço determinado pela empresa, diferenciado por camadas de ocupação: de um lado - o traçado antigo e do outro - o novo, e ainda, bairros criados de acordo com a condição econômica dos empregados, agravando ainda mais a associação entre as partes, deixando a disjunção entre as camadas de ocupação evidente.
Infelizmente não houve definição das áreas de proteção histórica e ambiental relevantes para o município, além do PDU, que acelerou o processo de degradação sofrido pelo núcleo histórico urbano, que não era assegurado através de uma legislação específica. Ainda houve o planejamento da empresa que gerou uma desapropriação maciça e compulsória de diversas áreas necessárias à nova infraestrutura. Criando num novo perfil e uma nova base para atender o fluxo de pessoas que chegavam de todas as regiões para se instalar.
Em outras palavras não houve respeito em relação a comunidade que já existia e a sua história, desmerecidamente foram relegados ao segundo plano. Várias famílias entraram na justiça e tentaram continuar com suas terras, processos que desenrolaram ao longo dos anos e os mais resistentes conseguiram recuperar pelo menos parte de suas áreas, a grande maioria não.
Mudanças realizadas, destruição de grande parte do patrimônio cultural e histórico, insensibilidade às questões sociais da comunidade que se sentiram inferiorizados através do preconceito pela origem basicamente rural. Não era a esperança tão sonhada, não era oportunidades para todos, mas era um violento ato de apropriação das terras e do passado, tornando o futuro incerto para a maioria das famílias.
Esta visão pode parecer rude em relação ao Ciclo do Aço, mas como sempre digo: toda história tem dois lados e o vencedor mantém a sua versão. Decisivamente não houve preocupação e simpatia em relação aos nativos e a sua identidade cultural, isto é um fato a ser reconhecido.
Novo tempo, novas possibilidades e elucidação, é importante recuperar e consolidar a memória do município, levantando parte da história que muitos viveram e poucos se recordam. Numa época que as culturas são ativas e em constante transformação, onde a globalização e a tecnologia prevalecem, o conhecimento do nosso passado construirá para um futuro mais consciente.
Formar cidadãos que reconhecem e valorizam sua cultura, que reivindicam melhorias e deferência, ajuda a construir uma sociedade mais justa, frente às necessidades de evoluir, de aprimorar, de alcançar maiores e melhores resultados, respeitando o passado, solidificando nossa história e garantindo o futuro.
Neste estudo através do Tema: Ouro Branco - Traços do Aço – Estruturação política e econômica, antigos laços e a nova realidade dentro do recorte de 1953 até 2014, ocasionou maior compreensão sobre o impacto que tais mudanças trouxeram para uma população basicamente agrária. Este espaço temporal proposto justificou-se, pois ajudou a identificar as causas e os efeitos da nova realidade local e do distanciamento exposto, baseado principalmente no sentimento nativo, minha base de comparação foi o final do Ciclo da Batata e o início do Ciclo do Aço.
Para quem quer saber mais sobre nossa história e nossa origem continue acompanhando a coluna:
https://www.portaltabloide.com.br/colunista/elizabetifelix
Mensalmente há material novo sobre os temas propostos.
“A cultura é fundamental para o nosso conhecimento histórico e sem este conhecimento não temos um futuro promissor. Sem cultura a vida segue sem sentido, sem união e sem arte.
A cultura é o que faz a diferença na vida coletiva. Da voz aqueles que são marginalizados, fortalece o sentimento de pertencimento de um grupo, estado ou nação e pavimenta novos caminhos.
Um governo que não reconhece a importância da cultura, não reconhece a importância do povo e sua história. Tal governo é - ou deveria ser - inadmissível em uma democracia.”
Leandro Carvalho Mauricio