Artur Carvalho de Amaral Gurgel
Demolições
Publicado em 14/11/2023, por Artur Carvalho de Amaral Gurgel.
Por que derrubam, sem piedade,
A casa onde a gente floresceu?
Será, meu Deus, meu orixá,
Que mesmo demolida a casa,
Aquela porta de madeira,
De duas bandas e bandeira,
Se abriria como dantes para mim,
Ainda me deixará passar?
Quero voltar para dentro,
Dentro de mim mesmo,
Retornar-me sereno, por fim.
Sentir o cheiro das sardinhas fritas,
Das benditas quintas-feiras, a mãe,
Com seus vestidos de algodãozinho,
Feliz de ser a parideira de seus filhos,
Dona eterna de sua máquina Singer,
Capitaneando as costuras de todos nós.
Ver de novo seu riso, seu doce olhar.
A escadinha estreita da copa
Que previa mistérios, presságios,
Um medroso desejo de se alçar.
Como já disse e predisse a poeta,
“Tudo de outro dono”, agora
Tudo derrubado, encarquilhado,
Tudo ferrugem de ninguém.
Arthur de Benlhevai