Elizabeti Felix
A ESCRAVIDÃO DO RACISMO
Publicado em 09/05/2024, por Elizabeti Felix.
No dia 13 de maio, a abolição da escravatura completa 136 anos, a Lei Áurea foi assinada pela princesa Isabel no ano de 1888. Será mesmo que significou o fim da escravidão no Brasil?
Segundo nossa língua portuguesa escravidão é sinônimo de submissão, subordinação, obediência, irresistência, resignação.
E o racismo é o preconceito, discriminação e o estabelecimento das diferenças.
Quando eu coloquei como tema a escravidão do racismo, eu quis que as pessoas começassem a refletir sobre isso: a escravidão do racismo é a servilismo ao estabelecimento das diferenças, é a resignação ao preconceito, ou seja, estamos ainda subordinados a escravidão do racismo em pleno século 21? Sim, pouca coisa mudou, ou simplesmente transformou a forma como as pessoas lidam com isso, infelizmente.
Quanto a escravidão e o racismo, sempre coexistiram independente do tempo.
No nosso mundo tendo várias culturas e a incompreensão destas, várias raças foram consideradas inferiores e submetidas ao trabalho forçado, servil a outro povo, coroadas por um déspota ou tirano, sujeito a obediência, sem resistência e resignação, tendo sua liberdade tolhida, colocando outro ser humano como propriedade de outro.
As escolas tratam deste assunto com informações do passado, sem fazer os alunos questionarem no presente porque seres humanos continuam sendo subservientes, tolhidos de sua liberdade e sofrendo preconceitos. Vemos a incompetência ao lidar com o assunto, inertes em soluções, permitindo o bullying, essa intimidação sistemática que continua sendo palco de tragédias humanas.
Deveríamos aprender com o passado e não repetir os mesmos erros, acostumando a vivenciar várias situações no cotidiano e deixando tirar nossas escolhas, nossa liberdade.
Na nossa sociedade sempre existiu uma padronização errônea, quem tem dinheiro e poder ainda mantém cativas pessoas sem condições aquisitivas, analfabetas ou diferentes. É claro que essa mudança parece instransponível e difícil mudar, é só olhar a nossa volta que temos vários seguimentos lutando por melhorias. Ao mesmo tempo que existe lutas, existe a segregação dessas pessoas em classes, que ao invés de estabelecer uma paz, aumenta o conflito.
Por sermos democráticos e pessoas sensíveis a exploração humana, vamos tratar mais extensivamente da escravidão nas sociedades. Após a proibição da escravatura de negros, os chineses se tornaram a moeda da vez, os que abandonavam o império chinês, pela super população, a escassez de alimentos e a crise decorrente da derrota nas Guerras do Ópio (1839-1842 e 1856-1860), saíam do seu país por vontade própria, mas encontravam a mesma sorte que os negros, a escravidão (leiam sobre esse tema na história americana).
Lembrando também que os indígenas, os povos originários de várias regiões do mundo foram escravizados, com populações inteiras dizimadas. A escravidão foi empregada pelos povos egípcios, assírios, hebreus, gregos e romanos, sendo assim um fenômeno histórico extenso e diverso.
As mulheres infelizmente tiveram sua escravidão voltada a prostituição, além do trabalho forçado. No Brasil, além das escravas servirem aos coronéis, tivemos também a história das escravas brancas judias, chamadas de “polacas”, que foram levadas ao Rio de Janeiro por cafetões.
Na história do mundo e na história do Brasil, os povos originários sofreram com a escravidão por puro preconceito, enquanto meninas ainda crianças eram traficadas e vendidas em mercados.
As descobertas das Américas como aprendemos é um engodo romantizado e temos muitas referências que abalariam o ensino de história nas escolas. Ninguém quer isto, certo? Mas mesmo assim é imprescindível trazer um pouco de luz as sombras. Em 1516, o historiador espanhol Pedro Mártir escreveu:
"Um navio sem bússola, mapa ou guia, mas apenas seguindo o rastro dos índios mortos que foram atirados dos navios de onde poderiam encontrar o caminho das Bahamas a Hispaniola."
Essa informação choca e traz uma profundidade dos aspectos ocultos, não repassados da história do mundo e da história do Brasil. Como sempre digo que a história tem dois lados, quando apenas um é registrado.
Durante séculos os judeus foram dominantes no comércio de escravos, desde os tempos romanos – especialmente o comércio de escravos brancos, na história do Brasil eles tiveram participação ativa no tráfico de escravos e na descoberta das Minas.
Para quem pensa que a escravidão humana ficou no passado, está muito enganado, os casos de trabalho escravo no Brasil atualmente, acontecem principalmente na zona rural dos municípios, associados ao extrativismo mineral e à atividade agropecuária em sua maioria. segundo estatísticas mais de 60 mil pessoas foram resgatadas de condições análogas à escravidão no Brasil entre 1995 e 2022. Independentemente da cor, raça ou sexo é importante ressaltar que a pobreza, a falta de oportunidades são importantes papel no aumento da vulnerabilidade das pessoas à escravidão moderna, outros fatores que contribuem além das desigualdades sociais, são casos ligados a xenofobia, ao patriarcado e a discriminação de gênero.
Eu li uma frase que me marcou, ela dizia: “a escravidão criou uma ideologia racista que inferioriza a população negra e perpetua a desigualdade entre brancos e negros”, reflitam sobre isso.
Após a abolição da escravatura houve imensas dificuldades para os negros no Brasil, que ainda estão presentes na maioria desta população, no entanto, a pior desigualdade é submeter ainda ao racismo não declarado.
A história do Brasil é muito rica, com poucas informações de acontecimentos em pequenos povoados. Um país imenso onde cada pequena povoação que transformaram em cidades, tiveram sua própria história, muitas vezes desconhecida ou com pouca referência no próprio município.
No nosso município- Ouro Branco-MG, não conseguimos referência de Quilombolas, mas com certeza existiram, há pequenos relatos de resistência e esconderijos na Serra do Ouro Branco.
Na nossa história houveram pessoas que não deixaram de ter suas lutas e se tornaram referencias para muitos, dentre eles vamos destacar negros importantes em vários seguimentos da nossa cultura:
- Zumbi de Palmares (1655 - 1695) – Resistência Quilombola
- Dandara de Palmares ( ? - 1694) -Resistência Quilombola
- Machado de Assis (1839-1908) -Escritor brasileiro
- João da Cruz e Sousa (1861-1898)- Poeta simbolista
- Luís Gama (1830-1882)- Advogado e escritor
- Aleijadinho (1738-1814)- Escultor, entalhador e arquiteto
- Maria Firmino dos Reis (1825-1917)- Romancista
- Carolina Maria de Jesus (1914-1977)- Escritora
- Pixinguinha (1897-1973)- Músico -Mestre do Choro
- Grande Otelo (1915-1993)- Ator
Passado e presente demonstram o quanto tiranos na sociedade podem influenciar de forma ativa e psicológica, impactando através de padronização e eventos na psique humana e na desestabilidade.
A discussão que deveria ser de muita importância no despertar da consciência é sobre o impacto dos acontecimentos atuais na “involução humana” e na “perda dos valores morais”.
Atualmente vivemos a existência de uma ideia errada da felicidade e da satisfação pessoal. As redes sociais com seus filtros e telas de sonhos, onde você pode ser quem quiser, mas no final a realidade é outra. A competição no trabalho, a falta de oportunidades, a inteligência artificial cada vez mais presente na exclusão de profissões, que desaparecem dia após dia. Relacionamentos vazios, a busca incessante por reconhecimento e a perda da identidade. A falta de compromisso, muitas vezes a facilidade e a deficiência de desafios, a baixa autoestima criam pessoas fracas e presas fáceis a manipulação.
Estamos vivendo cada vez mais distante de nós mesmos e do nosso eu interior. A história é feita por cada um, pelas escolhas e pela forma como decide viver, se existe uma culpa na sociedade, ela começa por nós. A escravidão pode ter diversas facetas, pode apagar sonhos e aniquilar vidas, ela não tem tempo determinado e não está apagada, não permita que ela cresça.
A escravidão do racismo está naquele que acredita ser inferior ou deixa ser menosprezado, submetendo-se a preconceitos infundados recorrentes da ignorância. A história nunca vai contar sob a ótica do oprimido e sim do vencedor.
Reconheça sua potencialidade, não deixe jamais que opiniões alheias enterrem o poder especial que você tem, jamais se submeta a atos de violência física ou psicológica, intencional ou recorrente, não permita ser intimidado. Desconstrua todas as formas de opressão, comece por você e quem sabe essa atitude viralize no mundo.