Elizabeti Felix
Fortalecimento da freguesia em Ouro Branco
Publicado em 28/05/2021, por Elizabeti Felix.
Devido à fertilidade do solo do pequeno povoado e a procura por alimentos, a agricultura ganhou força. O comércio de tropas e carros de boi cresceu e a região se tornou um dos mais importantes empórios de Minas no auge da mineração. A sua localização estratégica às margens de movimentadas estradas e rotas de abastecimento, contribuiu para esse fato.
“Por uma dessas casualidades que a história registra, este capitão Miguel Garcia pagou com a vida a sua audácia, e talvez o pecado, se pecado for ter descoberto o primeiro ouro das Minas Gerais. Pouco depois da descoberta, lutando com fome, penetrou mais adentro o sertão do Guarapiranga, onde os índios se vingaram numa emboscada e o mataram.
Foi dos descobridores, o único que não logrou a fortuna de desfrutar a sua data privilegiada, nem ver o progresso do seu arraial.”
(Diogo de Vasconcelos. História antiga das Minas Gerais,1843-1927)
A pequena concentração de casas e sua curta população estabelecia aos poucos o povoado, onde se desenvolviam as atividades agrícolas e a pecuária.
As estalagens fortificavam-se, fazendas abastadas surgiram, tornando a freguesia uma espécie de refúgio das elites, que não desejavam misturar-se com os escravos, pois a população de negros em Ouro Preto era muito grande.
As oportunidades de comércio aumentaram com a passagem das tropas vindas da capital pelo caminho velho trazendo produtos variados: sal, tecidos, manufaturados, utensílios diversos e notícias da corte. Pela mesma estrada passava também o ouro de Vila Rica em direção ao Rio de Janeiro. O desenvolvimento econômico passou a se sustentar de forma intensa a partir do comércio e da agricultura.
Nessa época, Ouro Branco passou a ter várias casas que abrigavam hospedarias e bodegas, sendo uma localidade movimentada.
O principal caminho de escoamento do ouro extraído tornou-se a principal rota de comerciantes, de nobres, de garimpeiros, da guarda real, de tropeiros e malfeitores, atingindo em pouco tempo um movimentado percurso das Minas Gerais.
As tropas faziam seu descanso em fazendas ou estalagens ao longo do caminho, enquanto selas e arreios eram trocados ou reformados para continuidade da viagem. O principal ponto dessa parada ficava no local, hoje denominado “Comunidade de Carreiras”.
A Fazenda Carreiras, que na época não tinha esse nome, abrigava vários viajantes, onde também se cobrava o imposto da coroa. Situada em ponto estratégico, passagem obrigatória entre Ouro Preto e Rio de Janeiro, era um posto de registro e controle, fiscalização de passagem de tráfego de pessoas, escravos, animais e mercadorias. Para administrá-los eram utilizados os serviços de um administrador, um contador, um auxiliar e soldados.
A obtenção do lucro da exploração do ouro era conhecida como quinto, que na verdade era a retenção de 20% da obtenção do ouro levado às casas de fundição. Tratava-se do pagamento de um direito (como existe até hoje na forma dos royalties).
Com o crescimento dessas tropas de passagem, o antigo caminho que levava até a Vila Rica chegou a possuir cerca de quatorze estalagens, numerosas casas comerciais, famosas selarias e fábricas de objeto artesanais consumidos pelos tropeiros e carreteiros, fortificando, assim, o traçado urbano do pequeno povoado.
Assim foi firmando a freguesia (Ouro Branco) em torno da Igreja Matriz e ao longo da estrada real, do tortuoso caminho novo.
A vida religiosa e social da nossa freguesia concentrava-se dentro e em torno do monumento de celebração. As importantes construções foram erguidas pelas irmandades que representavam o poder local, importante base para manutenção do sistema colonial.
A exemplo desse sistema, podemos citar a Matriz de Santo Antônio, construída pelas Irmandades do Santíssimo Sacramento, que em sua corporação concentrava as famílias mais ricas do povoado e a Matriz de Santo Antônio em Itatiaia foi construída por iniciativa das Irmandades do Santíssimo Sacramento,
Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e São Benedito.
Seu primeiro vigário colado foi o Padre Romão Furtado de Mendonça, a Matriz elevada à categoria de “freguesia colativa” fortaleceu o entrosamento entre o poder civil e poder eclesiástico.
Nesta mesma época a manufatura e indústria da Cerâmica Saramenha ganhou força: panelas, gamelas e outros utensílios domésticos conhecidos como “louça bárbara”, também despontaram como fundamentais para a economia local e regional.
No movimentado “Caminho Novo”, tido como a primeira estrada oficial brasileira, tornou-se possível o surgimento de fazendas de importância cultural e econômica. Elas ajudaram a determinar os três ciclos econômicos na vida dos habitantes locais, como: o ciclo do Ouro, da Uva e o da Batata.
As fazendas mais estruturadas onde se encontravam informações eram: Bom Cabelo, do Bessa, do Manuel Lourenço, do Cadete, Calixto, Fazendinha, Carreiras, Pé do Morro, Boa Vista, Morro da Venda, da Barra, dos Vieiras, dos Cristais entre outras que, infelizmente, foram desaparecendo ao longo dos anos e drasticamente com a chegada do Ciclo do Aço.
Ainda hoje, alguns exemplares permanecem como representantes fidedignos da nossa história. São as fazendas: Carreiras, Pé do Morro, Cadete, Fazendinha e Cristais. Há algumas na zona rural, mas ficavam fora da rota.
O “Caminho Novo”, iniciado por Garcia Rodrigues Paes, fez do núcleo “Freguesia do Ouro Branco” um importante ponto de passagem e estadia, na difícil viagem entre a capital São Sebastião do Rio de Janeiro e Vila Rica. Ouro Branco passou a ser o último ponto de parada antes do inóspito trecho de seis léguas da estrada até Vila Rica. Esse caminho ficou conhecido como “Estrada Real da Corte”.
Ouro Branco foi também ponto de passagem e encontro dos Inconfidentes. O alferes Luís Vieira da Silva nasceu na nossa cidade, no lugarejo que pertencia a Freguesia do Ouro Branco (local dentro da área onde se encontra a Gerdau, foram identificadas as ruínas da Fazenda Guido onde ele morou). O local também era conhecido como passagem do Ouro Branco.
Com a constante movimentação das tropas na “Estrada da Corte”, o caminho ficou muito agitado, Saint-Hilaire chegou a comparar o caminho novo como Toulouse na França.
Nessa região, palco do surgimento e abrigo dos ideais de liberdade, tem-se a fiel participação de seu ilustre filho Cônego Luiz Vieira da Silva, na Inconfidência Mineira, assim como fatos relevantes da história, podemos acreditar que aqui, onde a vida sempre foi movida por “ciclos”, a identificação do “Ciclo da Liberdade” teria acontecido paralelo ao “Ciclo do Ouro”, como parte significativa na luta e sonhos de liberdade do Estado e do País.
Fonte: Ouro Branco dos Ciclos/ Elizabeti Felix. – Belo Horizonte:
Ler para Escrever, 2017.84p. ISBN 78-85-66562-15-6