Elizabeti Felix

Serra do Ouro Branco (Deus te livre)


Publicado em 08/04/2021, por Elizabeti Felix.

Falar sobre este monumento natural é falar da nossa história, impregnada em suas escarpas, em seus caminhos, em seu tempo.

A Serra do Ouro Branco foi o marco inicial para os exploradores na região, as expedições dos bandeirantes introduziram-se em terras desconhecidas, nas encostas e serras do nosso país numa época que a orientação se dava por pontos de referência, utilizavam recursos que a natureza oferecia para buscar orientação. Também sabiam utilizar a posição dos astros e do sol para identificar as suas localizações geográficas e escolherem a direção a ser seguida em suas viagens.

Durante anos, muitas expedições falharam e foram derrotadas por doenças desconhecidas que davam febre e matava rapidamente; por batalhas com tribos de índios violentos; pela dificuldade do próprio caminho; pela fome e sede que desanimavam o espírito dos aventureiros.

Conforme Antonil* relata em “Roteiro do Caminho Velho”, as dificuldades eram muitas, a viagem era longa e penosa e muitos historiadores descreve que era considerado um dos piores trechos o caminho entre Ouro Branco e Ouro Preto, por causa da serra que era conhecida como Deus te Livre, exatamente pelas dificuldades de percurso.

Em 1694 os bandeirantes já exploravam ouro em Itaverava e há o registro da Carta de Sesmaria de Borba, de 03 de dezembro de 1710, onde se lê que o Itatiaiuaçu se chamava Serra de Itatiaia, onde já se encontravam os “irmãos” Manuel Garcia e Miguel Garcia. Esta data está de acordo também com pesquisas que ressaltam duas interessantes passagens – Miguel de Sousa que partiu em busca do Ouro do Tripuí em 1691 e não encontrou o caminho e Antônio Dias em 24 de junho de 1698 que deu início à exploração.

Através das pesquisas constatei um fato curioso, que a palavra “ribeiro” é muito usada quando se refere a região entre Itatiaia e Queluz, me levou a concluir que nos primórdios Ouro Branco era citado como “ribeiro”, que mais tarde levou o nome do seu descobridor Miguel Garcia, conforme alegado por Diogo Vasconcelos (historiador).

O processo de migração tornou-se intenso, em busca de riquezas, trouxe em pouco tempo um aumento da população dos povoados onde se descobria o ouro. Apesar desse ouro encontrado na região da Serra do Deus te Livre, não ter sido de boa qualidade, o arraial cresceu e conseguiu se organizar às custas da agricultura e pecuária.

A região virou campo de exploração e o cenário de montanhas e serras sofreu com essa devassa da exploração do ouro. Posteriormente, já com a exploração do minério em queda, a paisagem havia mudado drasticamente, o cenário era de pobreza e tristeza.

O caminho velho passou a ser a ser conhecido como “Estrada da Corte” ou “Estrada Real”, tornando-se o principal ponto de escoamento do ouro extraído, a principal rota de comerciantes, de nobres, de garimpeiros, da guarda real, de tropeiros e malfeitores, atingindo em pouco tempo um movimentado percurso das Minas Gerais.

Sendo principal ponto de acesso para Ouro Preto, nosso município ficou registrado por várias caravanas de viajantes estrangeiros que passaram pela região e através de suas anotações nos diários de viagens podemos conhecer nosso passado por meio dos seus relatos.

Observação: Ainda hoje há ruínas de fortes, galerias e caminhos de pedras ao longo da Serra do Ouro Branco, registros físicos da rota do ouro.

*Quem era Antonil- Giovanni ou João Antonio Andreoni, mais conhecido por Antonil, ou André João Antonil, seu pseudônimo literário, era um religioso jesuíta, autor do mais importante testemunho sobre a economia colonial brasileira, na época da transição entre o ciclo do açúcar e o da mineração. Uma das suas obras mais conhecidas é “Cultura e Opulência do Brasil”.

 

Fonte: Ouro Branco dos Ciclos/ Elizabeti Felix. – Belo Horizonte:

Ler para Escrever, 2017.84p. ISBN 78-85-66562-15-6