Elizabeti Felix

Os quatro ciclos econômicos: primeiro ciclo econômico - ouro


Publicado em 28/09/2021, por Elizabeti Felix.

A primeira descoberta oficial de ouro só foi registrada por Antônio Rodrigues Arzão, possivelmente em 1693, no lugar chamado “Casa da Casca”. Manoel Borba Gato, genro de Fernão Dias e sua gente, foram os primeiros descobridores de ouro em Sabarabuçu (hoje Sabará), Sertão do Rio das Velhas.

“O ouro era todo de formações aluvionais espalhadas às margens dos rios e sopés de serras. O metal que se situava abundante às margens dos rios geralmente era acamado e revestido de terra, areia e cascalho” (Diogo de Vasconcelos, História antiga das Minas Gerais)."

(Ilustração do Ciclo do Ouro – Elmo Alves)

 

As notícias da descoberta de ouro em Minas Gerais se espalharam pelo Brasil e chegaram à Portugal.

Milhares de pessoas acorreram à região.

A sede do ouro instigou muitos a deixarem suas terras e à introduzirem por caminhos ásperos, desconhecidos e de intricados acessos. Faltavam escravos, utensílios diversos e animais de carga.

Interesses e atenções passaram a ser dispensados à Colônia. Com o ânimo voltado para o ouro, uma multidão lançou-se à procura de ribeirões auríferos nos sertões. Esse rápido e caótico povoamento provocou problemas de conflitos e discórdias entre paulistas e emboabas* (vale a pena conhecer mais sobre essa passagem da história).

A região de Minas foi-se consolidando e começaram a aparecer os núcleos mineradores. Cada minerador trabalhava com uma média de escravos, quanto mais escravos, maior sua data*. As freguesias foram surgindo e se firmando. Muitas histórias que jamais chegaremos a conhecer aconteceram e não se tem registro. Passagens inapropriadas, malfazejos que deixaram marcas em toda região de exploração.

Com o surgimento desses povoados que se estabeleciam, capelas humildes logo davam contraste com as construções de templos grandiosos e ricos, onde a opulência demonstrava que havia riqueza local.

“Estavam assim descobertas as minas de ouro em nosso Estado. Ia começar para o Distrito (que só depois desse fato é que passou a chamar-se das Minas, e antes se chamava Catagua`s) uma era nova, - a era do mesmo tempo da riqueza e da miséria, da opressão por parte da Metrópole, e dos crimes de toda sorte entre os mineradores”. (Carlos Góis, História da Terra Mineira, 1933.)

A exploração do ouro no século XVIII mudou para sempre a vida das localidades. Os arraiais tornaram-se cidades e a população basicamente rural tornou-se urbana, estimulando a fixação dessa população por causa do efeito econômico que gerava, através do comércio.

Assim surgiram nossos municípios, resultado de mineiros e escravos que ocuparam e exploraram toda Minas, onde a esperança e a ambição eram de homens rudes e bravios, devassos e sonhadores na busca de riquezas. Naturalmente, toda essa riqueza gerava conflitos e lutas por toda região. No século XVIII, houve a rebelião em Minas contra a cobrança do quinto pelas Casas de Fundição.

Minas Gerais transformou-se no centro da exploração do ouro e das primeiras revoltas políticas contra a colonização portuguesa: nosso povo não queria mais ser explorado. Dentre essas insurreições, a que mais se destacou foi o Movimento da Inconfidência Mineira, amparando os primeiros abalos da rebelião contra os estatutos da Metrópole.

Paradoxalmente a era do ouro deixou nosso estado mais pobre e sobrou pouco dessa riqueza para o Brasil, enviado principalmente para Portugal e para o restante da Europa. Com nosso ouro Portugal salvou-se da ruína iminente.

“Com essa soma fabulosa não só Portugal se sustentou a si, durante mais de um século, como sustentou ainda todo o resto do Brasil! Foram as minas de ouro do nosso Estado que livraram o Brasil da invasão estrangeira.”

 (Carlos Góis, História da Terra Mineira, 1933.)

Com o ouro do Brasil D. João V edificou o monumental conjunto de Mafra em Portugal: basílica, palácio real e convento, criou a biblioteca da Universidade de Coimbra e construiu o aqueduto das Águas Livres, que abasteceu Lisboa.

Após a opulência, o pouco do ouro que restou para o nosso país foi gasto em igrejas, capelas e doações a padres. Várias pessoas viviam na miséria, sem condição alguma, num sistema econômico adoentado e com o poder de Portugal explorador, gerando revoltas e hostilidade.

D.João V, um rei gastador, conhecido em Portugal como “Magnânimo” e muito envolvido com a igreja católica, foi o responsável direto pelo desperdício desse ouro, juntamente com a sociedade portuguesa da época. Em seu reinado, a arte Barroca manifestou-se na arquitetura, no mobiliário, na talha, no azulejo e na ourivesaria, trazendo civilização europeia à Colônia.

“...na partilha dos metais e das pedras preciosas do Eldorado mineiro, coube-lhes sempre a parte leonina, ou, antes, tudo era para eles e o resto para os demais. Sacrifícios, extorsões, degredos, incêndios, matanças coletivas, eis o rastro de sangue e lama, a inapagável crosta de vermelhidão que os dominadores deixaram após si. Tudo então era, em Portugal, feito com as riquezas do Brasil.

.... Qualquer mercadoria pagava direito de entrada, direito de permanência, direito de saída. Em Minas só havia duas coisas certas: a morte e o aumento dos impostos.” (Antônio Tôrres. As Razões da Inconfidência, 1957).

Continua...

*Data – Concessão da Coroa Portuguesa para a exploração do Ouro.