Elizabeti Felix

Os quatro ciclos econômicos primeiro ciclo econômico – ouro – continuação


Publicado em 29/11/2021, por Elizabeti Felix.

Com a exploração exagerada da metrópole em Minas ocorreram várias revoltas e conflitos, destaca-se:

- Guerra dos Emboabas (1707-1710): os bandeirantes paulistas queriam exclusividade na exploração do ouro, nas minas que descobriram e por isso entraram em choque com os imigrantes que também exploravam o ouro das minas.

- Revolta de Filipe dos Santos (1720): representou a insatisfação dos donos de minas de ouro com a cobrança do quinto e das Casas de Fundição. O líder Filipe dos Santos foi preso e condenado à morte pela coroa portuguesa.

- Inconfidência Mineira (1789): liderada por Tiradentes, os inconfidentes buscavam libertar Minas de Portugal. O movimento foi ceifado pela coroa portuguesa e os líderes condenados.


Minas Gerais sofreu muito com o monopólio do ouro por parte de Portugal. Estado rico em minério e recursos naturais, teve em vários momentos suas terras devastadas, esburacadas e sua natureza destruída.

A exploração desse ouro em Minas foi responsável pela manutenção da riqueza na Europa e pela pobreza da Colônia. Nosso território foi sugado pela coroa portuguesa que detinha o poder e não se preocupava com a terra que lhe dava o sustento, O INTERESSE ERA APENAS FINANCEIRO.


“O ouro, por sua vez, era encontrado no sopé das montanhas, na argila e no leito de riachos. As riquezas minerais estavam escondidas na floresta nativa, sendo necessário queimá-la para a exploração. Em seguida, os rios eram desviados em direção às encostas para lavar o solo e se encontrar os metais preciosos. As montanhas eram desbarrancadas, misturadas à água, formando uma lama que destruía rios e espécies aquáticas.”

(MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista!  São Paulo: Peirópolis)


O ciclo do ouro foi estimulado pela facilidade de extração, mas as técnicas eram primitivas e acabaram por assorear os cursos d’água, impedindo a retirada do ouro. Galerias e veios auríferos localizados nos morros foram esgotados rapidamente. Não havendo metodologia avançada disponível para continuar a extração, as dificuldades e as revoltas desencadeiam impactos econômicos que levaram à decadência da região aurífera. Deixando para trás um rastro de miséria e fome, por um longo tempo.


Minas resistiu, ressurgindo como uma fênix em sua história com seus templos e casarões e novamente suas montanhas se enfeitaram de verde e coloriu de flores, a vida renasceu junto à esperança.


Nosso Estado ressurgiu das cinzas, da ganância e da exploração do seu povo, onde homens que apesar de estigmatizados se levantaram para dizer basta e morrer por uma nação.


Falar da exploração do Ouro, sem relatar parte da Inconfidência Mineira é deixar de trazer à tona um passado nem sempre bem explorado.


Segundo o livro de Tiradentes coordenado por Kenneth Maxwell, conta a história de como os conspiradores de Minas se inspiraram na bem-sucedida guerra americana de independência [...].” O Recueil des Loix Constitutives des États-Unis de l’Amérique (ou o “Livro de Tiradentes”, como passou a ser conhecido nas Minas) é a coletânea dos documentos constitucionais fundadores dos Estados Unidos da América: a Declaração de Independência, uma primeira redação dos Artigos de Confederação, um censo das colônias inglesas de 1775 e outros termos acessórios, como a Constituição de seis dos treze estados confederados. Mas o Recueil é muito mais que isso: protagonista de uma história que envolve o Brasil, a América do Norte, a Europa e suas relações recíprocas entre 1776-8 e 1789-92, a coletânea de leis foi o principal veículo de informações sobre o republicanismo norte-americano para os conjurados mineiros, os quais passavam de mão em mão duas edições que chegaram por vias tortuosas à porção insurgente da colônia portuguesa nas Américas. 


De acordo com informações de pesquisa neste mesmo livro, realizaram-se no Brasil, em 1789 e 1790, duas “devassas”, tribunais especiais secretos de inquirição, para investigar a conspiração de Minas. Essas devassas eram uma série de interrogatórios judiciais conduzidos por diferentes magistrados indicados pelo vice-rei do Brasil e pelo governador de Minas. As autoridades portuguesas puderam esconder a conspiração de Minas da atenção internacional porque em 1789 o mundo acompanhava os dramáticos acontecimentos de Paris, onde a Revolução Francesa acabara de começar.


“Os conspiradores de Minas reconheciam a pertinência e a importância da Revolução Americana porque consideravam os impostos que Portugal lhes cobrava semelhantes aos que os britânicos tentavam impor a suas colônias americanas.”

(O livro de Tiradentes  por Kenneth Maxwel)


A Inconfidência Mineira foi inspirada pelas ideias iluministas dos franceses. Numa época que ler e escrever era para elite e pessoas ligadas à igreja, ter conhecimento e compartilhar era motivo de acossamento. Cônego Luis Viera da Silva teve mais de mil livros sequestrados de sua biblioteca particular na devassa. Você pode descobrir muitas informações importantes a partir de uma leitura crítica do livro ʺO diabo na livraria do cônego", de Eduardo Frieiro. Onde poderá perceber que sob o contexto histórico da Inconfidência Mineira, as referências aos livros e ao diabo, eram semelhantes e já implicava em perseguição.


Minha admiração a esse homem que mesmo pobre e numa distante terra denominada “ainda” colônia, persistia e mantinha admirável acervo numa variada biblioteca, consideravelmente selecionada, como provavelmente não existia outra igual em todo o País.

 

No próximo artigo continuaremos a abordar os ciclos econômicos, o segundo Ciclo da Uva.